Capítulo 1 - Plano Fantástico
- Loris Reggiani
- 19 de mai. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de mai. de 2020

- E se eu te disser que nós estamos todos em um hospital... Você acreditaria em mim? - barba por fazer, voz rouca e cabelos levemente grisalhos. Uma pergunta aparentemente sedutora. Aquele meio-senhor dizia algo de extrema importância.
Sentado em uma cadeira desconfortável ele olha fixamente para o clínico-geral à sua frente, como se não existisse mais nada no mundo. A mesa que os separava, tal fosse uma muralha medieval.
O médico discretamente ergue as sobrancelhas fazendo um sinal já combinado, um guarda se aproxima da porta e fica à espreita, preparado para qualquer reação.
- Você deve estar achando que eu sou louco… Não sou. Vocês são. Não sou. Aqui dentro… lá fora…. O mundo é um hospital - as paredes começam a tremer, pedregulhos se levantam do chão, a luz pisca.
- Aham - o médico engole em seco.
- Obrigado - tudo para de tremer.
Sem entender nada o médico acena para o guarda que consente e se afasta.
- Estamos tendo uma boa conversa… Isso é fundamental para qualquer civilização - o senhor se levanta, vira de costas e caminha para a porta, seu avental de paciente levemente ajustado sobre o corpo balança ao caminhar - Como forma de agradecimento, eu vou te libertar…
O médico apenas observa, sem entender nada.
- Pronto, você está liberto.
- Senhor… - o doutor olha para a sua mesa e encara o formulário de avaliação, não sabe o que escrever. Aquele senhor está pronto para voltar à sua vida normal após um grave acidente? Está? Uma parte diz que sim, o guarda lá fora diz que não. Foda-se. Escreve qualquer coisa, cara...
- Não me agradeça, tudo ficará mais difícil para você agora - o senhor sai da sala, o doutor continua flertando a pilha de papéis espalhados sobre a mesa esperando que eles lhe dessem alguma resposta.
O homem sai do consultório. Todas as luzes se apagam.
Antes que pudesse se controlar, o médico grita.
- Tudo bem dr. Marcelo? - o guarda entra correndo no consultório.
- Tudo bem - responde firme, maldito medo do escuro.
- Enfrente seus medos - a voz do senhor ecoa na sala.
- UAAH! - o médico grita novamente - Você ainda está aqui, cace...?
- Estou - escuta-se passos se distanciando - Estava...
- Tudo bem dr. Marcelo? - o guarda pergunta novamente.
- Fica aqui comigo.
- Eu tenho esposa Dr. Marcelo.
Ouve-se um barulho de zíper descendo.
- Não estou falando disso.
Escuta-se um barulho de zíper subindo.
- Cara, o que está acontecendo?
- Com licença, Dr. Marcelo - o guarda sai da sala.
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