Reflexão sobre a Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire
- Tom Regis

- 5 de jun. de 2020
- 3 min de leitura

Segundo Paulo Freire o homem tem vocação à humanidade, mas a nega.
É fato que o conceito e o processo da busca pela humanização só existe porque existe também a desumanização (conceito básico de luz e trevas).
A sociedade se concentrou, e se concentra até hoje, na resposta de como tornar o mundo mais humanizado que parece que se esqueceu que, mais importante do que ter uma resposta exata, é fazer a pergunta correta!
Ao invés de dedicarmos tanta energia em humanizar mais o mundo em que vivemos, que tal respondermos à questão: se a humanização é uma vocação do homem, segundo Freire; por que nós a negamos?
Essa questão de luz e trevas, positivo e negativo, oprimido e opressor, se tratada de forma radical nos leva também à ideia de polarização. A questão de ver a desigualdade como um problema não está na essência da diferença em si. É impossível eliminar completamente as diferenças. O problema está na forma como lidamos com a diferença, e também nas ações que tomamos para intensificá-la ou reduzi-la.
Se a consequência da diferença for a privação de algum ser humano às condições básicas de existência (e até neste ponto a complexidade vem à luz, pois o próprio conceito de condições básicas de existência passa por uma pluralidade sem números de definições divergentes), mas voltando ao enfoque, se o resultado da diferença privar algum ser humano de suas condições básicas de existência caímos no conceito de desumanização (que embora não seja nossa vocação enquanto seres humanos, a praticamos em nosso dia a dia, dado o reflexo da violência, injustiça, desigualdade pejorativa em nosso cotidiano).
Só a existência da desumanização justifica a luta pela humanização, mas a questão da humanização não pode se estabelecer no princípio de igualdade total ou ainda na eliminação total de toda e qualquer diferença, isso é impossível dada a nossa constituição como seres “sócio-individuais” (vivemos em sociedade, mas nossa individualidade se sobressai em nossas decisões) e históricos que somos (nossos conceitos, estilos de vida e até nossa filosofia é moldada pelo processo de mudanças às quais nós mesmos nos remetemos ao longo do tempo). Dessa forma, ter como meta o igualitarismo pleno e a eliminação total de toda e qualquer diferença é uma visão utópica.
Dado que somos seres tomados de raciocínio, a interpretação (nem sempre a compreensão) sempre permeará nossa visão de mundo. A interpretação nada mais é do que o efeito de traduzir em conceitos e ideias a nossa visão acerca da “realidade” que se apresenta para nós em determinado momento.
Como fazer isso sem associações? Como realizar associações sem parâmetros? Como os parâmetros podem existir na ausência total de diferenças? Logo entendemos que a grande questão da humanização não está em alcançarmos todos o mesmo patamar político, social, intelectual e econômico; a humanização está em respeitar o conceito individual de cada ser sobre o que julga ser uma existência plena para si.
E então, conscientizar as pessoas (aí está o calcanhar de aquiles da relação oprimido opressor) de que esse “conceito individual de existência plena” deve considerar e respeitar também o conceito e bem estar dos demais seres. Parece altamente utópico, eu sei! Mas a chave para romper esse ciclo histórico de “oprimidos e opressores” não está na busca pela humanização (pois se a necessidade da busca existir, significa que já estamos dentro do ciclo).
A chave está em entendermos e superarmos nossa negação à vocação que temos pela humanização, neste ponto estamos um passo antes de “adentrarmos o ciclo”.
Entretanto, uma vez constituídos social e moralmente dentro de um ciclo tão fortemente enraizado, o processo para eliminação do mesmo requer “desconstrução” e “reconstrução” de conceitos, e infelizmente, do mesmo modo que a instauração levou muito tempo, o rompimento também levará.
Mas ele começa na forma como lidamos com as diferenças e na visão que temos sobre o que queremos como existência plena, uma vez que estes dois fatores passem a considerar e respeitar o bem estar do próximo, só então teremos dado o primeiro passo!











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